sexta-feira, 18 de junho de 2010

A história da humanidade é uma história de tantas tristezas
todos os homens e mulheres são tristes
mais tristes se assim o sabem
e se de si pouco ou nada conhecem ou desconfiam
menos tristes (ou mais dormentes) serão
adormecida humanidade
no espaço vazio que transporta em sua pequenez
a humanidade transposta em outros homens
(que não existem) e de olhos abertos vivem sem pressa para além das tristezas
isso, essa se chama esperança
que só perdura porque é cega e surda
e se inventa e se cria e se alimenta
no coração dos homens que não sabem que são tristes
cegos surdos e tolos
de fecharem olhos ouvidos e a mente
a todo sofrimento do mundo
este poema é uma dor
profunda e de impróprias imagens autodescritivas
que desperta nos olhos do homem
no preciso instante em que seu olhar reconhece
que tudo que há dentro de si
é igual ao que há fora de si
e dentro de todos os outros homens
a história da humanidade é uma história de tantas tristezas
quanto se pode destilar
do lago triste onde choram os homens
bebe aquele que desperta
quantas humanidades há dentro de um só homem?
quantas faces espelhadas tem a sua tristeza?
o homem se vê em todos os homens
sua dor é a dor de todos os seres
a tristeza de um homem é a tristeza de todos
a única lucidez que os unifica, em todas as línguas
na língua dos olhos tristes que todos os homens entendem
(mesmo quando mutilam outros homens)
mas meu carrasco me olhava nos olhos enquanto me cortava
e se comprazia de minha tristeza
desconheceria por completo a sua própria
para não encontrá-la em mim
ou desejou que ela fosse minha
já que não pôde guardá-la em si?
(mas será essa a lógica do desigual)

aquele que conhece sua tristeza
a reconhecerá em todos
o olhar para dentro é igual ao olhar para fora
os homens são os mesmos
em todos se hão de manifestar todas, as tristezas (para isso tempo haverá)
serão nesse dia um único homem
todos os homens?


Este poema é uma dor
que de si mesma me liberta
porque mais a conheço e assim mais me aproximo
do homem em mim que se repete em todos
e agora que por um instante (com mais idéias do que sei palavra) me aproximo
será o quê (existirá?)
que elo
que linguagem
que palavra
que lampejo
que intocável fugidio pensamento
haveria que conjuga e converge
as humanidades todas, e as estrelas?